quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Oriental Google Maps



A Zona Oriental de Lisboa é residencial, comercial, industrial, de serviços?
Marvila, Braço de Prata, Poço do Bispo, Matinha... 
tantos hectares (cada hectare são 10.000 m2) 
de antigas fábricas e armazéns, 
edifícios de aspecto precário que albergam carradas de tecnologias, 
centros de comunicações, 
centros culturais alternativos (a cultura que não usa fraque não é sempre alternativa?), 
restaurantes "fora-da-caixa", 
antigas jóias arquitectónicas art nouveau, 
estaleiros de obras abandonados, 
edifícios em construção incompletos por embargos e falências, 
largas avenidas e ruas esburacadas, 
ferro velho que resta de antigos impérios, 
o caminho-de-ferro sempre a dividir tudo, 
o rio separado da cidade pela barreira portuária, 
esqueletos de antigos reservatórios de combustíveis, 
terão ficado metralhadoras escondidas em cacifos e armazéns?,
a EXPO foi um bom começo, mas para onde continua?
e avista-se a ponte, que a cidade precisa de abrir os braços, estendendo-os
    até encontrar novos aeroportos
esta Lisboa que não é Lisbon
e logo os chineses descobriram primeiro o Porto Alto... estarão por aí camuflados?
há couves galegas plantadas atrás de um muro ao lado de um data center...
um canavial nas traseiras dos armazéns
um colégio com nome de poeta em letras encarnadas
ao longe torres estilosas de linhas futuristas
muros com grafittis quilométricos
Rotundas a que faltam as estátuas mas não a calçada à portuguesa, 
    ondulada sob o pavimento deformado
    — que naquele dia infelizmente avariaram as compactadoras
e o porto ali tão perto...
Diz que fraternidade é revolução
que será que existe no número 157?
Taparam com tijolos as janelas em arco de volta inteira
    e os portões ainda têm trabalhosos forjados pintados de verde
    onde não faltam sinais do Artº 14º nunca respeitados
O low cost é barato?
Foi-se a tasca de azulejos verdes
E a Oriente havia um clube
 — ainda lá estará o fontanário de mármore?
Mas porque irrompe agora um palacete?
E ali o único sítio com gente nem sequer tem letreiros
    mas tem balões amarelos por cima das portas e uma alegre barra encarnada na parede.
Sim, o rio parece azul para lá daquela chaminé,
mas as modestas casinhas meio-demolidas nem sequer eram alegres
Esmeraram-se a esculpir as ombreiras daquele portão com um escudo enorme 
    (era palácio de marquês)
    não toca a banda, 
    mas já vi que ali todos são importantes e têm foto sorridente, ainda bem
Lá de cima vêm prédios novos a empurrar as barracas e as hortas e as ruínas sem remédio
Aquele beco será um dia entulho
    mas há uma roseira e uma boca de incêndio junto a um portão de garagem
    irão sobreviver aquelas duas árvores atrás do muro de tijolos?