sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

As agruras de um rio




Petição pela demolição do açude insuflável de Abrantes…
(agora "anda" aí uma)
… e outras considerações...


Se calhar, o dito açude nunca deveria ter sido construído….
E que razões estarão por detrás da sua construção? Talvez perguntando a quem teve a ideia do projecto… Se calhar a ideia foi luminosa...


Havia por ali umas extracções de areia… A areia é um material de construção importante. Pode parecer que existe muita e até é relativamente barata, mas talvez não seja assim tão simples. Gasta-se muita areia nas construções. Os inertes são mesmo a parte mais pesada das construções. O betão é essencialmente constituído por calhaus e areia… com muito cimento misturado, claro, e água suficiente. O transporte é uma parte importante do custo dos inertes. Ter os locais de extracção perto das obras onde são empregues pode diminuir bastante os custos destas últimas. Fica tudo mais rentável, gerando maiores margens de lucro ou posições concorrenciais mais vantajosas.

Ora o Tejo costumava transportar bastante areia. A areia é originada pela erosão das terras e rochas existentes a montante, sendo depois transportada e posteriormente depositada nos locais determinados pela dinâmica fluvial. O Tejo é um rio sujeito às mesmas leis que todos os outros rios: se tiver algo para transportar e tiver capacidade de transporte, vai fazê-lo. 
Entretanto, foram sendo construídas barragens. Sabe-se a capacidade que têm as barragens para reter os sedimentos transportados pelos cursos de água. Esta diminui de velocidade e os sedimentos deixam de se deslocar. Não há velocidade suficiente para isso. Se a erosão se mantiver nas cabeceiras dos rios, as barragens vão a certa altura ficar cheias. Vão passar a ter sedimentos em vez de água. Se a barragem não for demolida ou, em alternativa, periodicamente esvaziada, mais tarde ou mais cedo acaba entupida, assoreada. Não havendo escoamento dos sedimentos (nos quais estão contidos os inertes úteis para a construção) eles não vão aparecer mais abaixo, nos locais habituais de deposição. Continuando a retirar os que ainda aí existam, isso vai provocar um abaixamento do leito do rio nas zonas afectadas.

Imagine-se agora que existem infra-estruturas importantes cuja estabilidade depende da manutenção dos sedimentos sobre os quais foram construídas (por exemplo, pontes construídas sobre fundações de estacaria enterrada no sedimento, sem contacto com o substrato rochoso, que pode estar a profundidades inconvenientes para o custo da obra ou para a capacidade tecnológica que exista ou existisse para a sua execução). A estabilidade das fundações e de tudo o que sobre elas for construído depende da manutenção do estado inicial dos locais, neste caso o leito arenoso do rio. Ou, então — se esse estado for alterado de forma importante — será necessário proceder a reformas importantes nas estruturas construídas, capazes de garantir a sua adaptação às novas condições.

Imaginemos ainda que, do local junto às pontes de Abrantes, foi sendo ao longo dos anos retirada uma parte substancial do leito arenoso, sem que o material retirado fosse substituído por outro, já que as inúmeras barragens existentes no Tejo assim o impedem: Belver, Fratel, Cedillo, Alcántara… São largas dezenas delas, se contarmos também com as que estão nos afluentes, já que todas contribuem para o mesmo efeito. Vamos ainda imaginar que as pontes começaram a acusar os efeitos das alterações no leito do rio. Todos sabemos com estava a ficar a ponte rodoviária do Rossio, antes das obras que recentemente sofreu. Todas as obras se degradam com o passar do tempo, mas há condições que podem acelerar essa degradação. E uma delas é a perda da base de sustentação. Óbvio, não é?

Até aqui só se falou de evidências… E daqui em diante, se calhar, é mais do mesmo…

Os "serviços competentes" aperceberam-se de tudo isto muito antes de o termos visto ou imaginado. É natural que assim seja. As preocupações foram-se avolumando e ganharam peso para empurrar a máquina da burocracia e as debilidades orçamentais. A obra fez-se. Parece que a ponte está aí para durar, de tal ordem foi o reforço estrutural que sofreu.

Mas, muito antes disso, algo mais foi feito. Como a pouca areia existente estava a escoar-se paulatinamente em direcção ao Tramagal, Rio de Moinhos, Montalvo, Constância, Praia do Ribatejo, Golegã, Chamusca…, foi necessário fazer algo para deter esse sangradouro: um espectacular açude insuflável. Espectacular e útil. Espectacular porque enche o olho. Um fabuloso lago aos pés da cidade, a enquadrar mais uns vistosos (e dizem as más-línguas que dispendiosos) arranjos paisagísticos na zona ribeirinha. E útil porque retém as areias, não as deixando passar dali para baixo (não esquecer que um  açude é uma barragem).

O açude serviu — em certa perspectiva, também; noutra, principalmente — para segurar as areias, impedindo-as de se deslocarem mais para baixo. Se a sangria continuasse por mais algum tempo, alguma ponte poderia até colapsar (e não seria a primeira do género a sofrer esse destino). E entretanto o negócio da extracção de areias (aliás necessárias para as obras, como já vimos) pode continuar, ainda que em ritmo mais pausado também ajudado pela crise...
Hoje afirma-se que os peixes já não passam, porque o açude não os deixa. Parece que as "escadas para peixes" (que até já foram alteradas) não funcionam devidamente, pelo que a fauna não consegue fazer as suas migrações. Faz sentido. Os peixes circulavam muito melhor quando não estava lá o açude. As "escadas" são sempre uma pobre solução.

E, principalmente, passavam muito mais peixes quando havia peixes para passar!

O Tejo, como muitos outros rios, foi infestado por espécies invasoras (talvez criminosamente ali colocadas) que dizimaram as espécies autóctones, das quais pouco ou nada resta. Mas alguém que saiba fazer melhor esta História que a faça. E o que é estranho ainda é que mesmo essas espécies invasoras ainda ali permaneçam, com a carga de poluição química que o rio transporta. Há quem se dedique a filmar quase diariamente a espuma que se forma na correnteza e se acumula nos remansos, na crença de que é verdadeiro o ditado da "água mole em pedra dura…" Até agora não furou nada. O rio é um verdadeiro esgoto. Calam-se os autarcas, porque as praias e outros atractivos turísticos que são a menina dos seus olhos sofrem com a divulgação dessa má imagem. Calam-se os ministros interessados, porque os seus colegas são mais poderosos e têm os olhos postos em diferentes interesses… Mas não é por deixar de se falar dos problemas que eles desaparecem. Aliás, parece que é precisamente o contrário: é preciso colocá-los em evidência para que, de alguma forma, se possa encontrar a solução para eles. A economia precisa de produção, é preciso produzir, sim, mas também é preciso que isso se faça sem ser em benefício apenas de alguns e em prejuízo dos restantes.


domingo, 11 de dezembro de 2016

"Castelo de Richat"





No Google Earth, a referência (feita em espanhol) às ruínas de um castelo português, situadas bem perto da chamada Estrutura de Richat (estrutura geológica de forma circular, com o aspecto de anéis concêntricos), na Mauritânia

A foto mostra as ruínas que, na imagem de satélite, aparecem rodeadas por uma qualquer estrutura delimitando o espaço, talvez um muro ou vedação.




Dentro do espaço delimitado, abaixo das ruínas do "castelo", nota-se um padrão de sombras podendo hipoteticamente corresponder a vestígios de outras construções, ao apresentar bastantes ângulos rectos aparentes.

Esse castelo ou forte aparece referido na página (em Inglês) Wikipedia sobre a localidade histórica de Ouadane, que enumera diversas fontes bem identificadas e seria na realidade um entreposto destinado a explorar rotas comerciais: ouro, sal e escravos. A página em Português alude igualemente ao assunto, mas não apresenta referências.

https://en.wikipedia.org/wiki/Ouadane


In 1487 a “feitoria” (trading factory) was founded inland in Ouadane (Ouadan, Uadem, Audem or Wadan). ...”.

http://www.colonialvoyage.com/arguin-portuguese-fortress-mauritania/